• 03 de setembro de 2012
“Meu nome é Nazaré, eu sou cabeleireira”, conta. Nazaré tem 43 anos. Para pagar menos impostos, ela fechou recentemente o salão que tinha e passou a atender em casa mesmo.
“Porque os impostos que eu pagava quando eu tinha o meu salão eram muito altos. Para mim foi a melhor coisa que eu fiz porque sobre mais dinheiro, né?”, diz Nazaré Reis, cabeleireira.
Gilberto, o marido, 53 anos, além de cabeleireiro é vendedor de cosméticos. Precisa do carro para trabalhar, mas não está fácil.
“A bateria eu não tive condições de comprar agora, porque o valor de uma bateria para o meu tipo de carro custa R$ 400 reais”, conta Gilberto Martins, cabeleireiro.
Esta semana, o Fantástico acompanhou durante dois dias a rotina deste casal que mora em um apartamento financiado no centro de São Paulo e tem uma filha, a Naara, de oito anos. O motivo: “A gente vai mostrar como os impostos influenciam na nossa vida”, revela Nazaré Reis.
E influenciam mesmo: da educação ao trabalho. Dos planos para o futuro à compra de alimentos.
Nazaré: “Quanto está o quilo do contrafilé?”
Atendente: “Contrafilé, hoje, tá na oferta, 16 reais.”
Gilberto vai abastecer o carro.
Gilberto: “Você coloca 20 reais pra mim?”
Atendente: “Gasolina?”
Gilberto: “Gasolina.”
Foram cerca de oito litros de combustível. Se não existissem os impostos, Gilberto conseguiria pôr 16 litros com os mesmos R$ 20. E nessa situação imaginária, a bateria não seria problema. Sairia pela metade do preço: R$ 200.
Quarta-feira passada, o chamado Impostômetro, da Associação Comercial de São Paulo, atingiu uma marca histórica: um trilhão de reais, somando a arrecadação de tributos federais, estaduais e municipais pagos este ano no Brasil.
A Associação Comercial de São Paulo calculou quanto os impostos representam no preço final de mais de 400 produtos e serviços. Por exemplo: Nazaré compra cerca de R$ 200 por mês em xampus. Se não fossem os impostos, custariam menos, R$ 110. “Tudo tem imposto. Então se a gente for somar mesmo, a gente trabalha para pagar imposto. Não sobra para a gente”, afirma Nazaré.
Mas o que será que representa o um trilhão de reais de impostos arrecadados só este ano? Imagine esse dinheirão convertido em notas de um real. Lado a lado, as notas cobririam São Paulo, a maior cidade do Brasil, seis vezes.
No supermercado, Nazaré, Gilberto e Naara economizam em tudo.
“6 reais essa bolacha”, diz Nazaré.
“Que absurdo, filha. Não dá para levar essa, filha”, diz Gilberto.
O resultado aparece no almoço. “Minha filha até reclama: ‘ai, mãe, de novo isso. De novo, aquilo’. Mas é que não dá”, conta Nazaré.
As refeições são no sofá. “Essa é a minha mesa, gente. Infelizmente”, diz Nazaré.
A mesa ficava onde hoje Nazaré atende as clientes do salão. No prato da família: arroz, feijão, salada e frango. Os impostos desses alimentos são parecidos, na faixa dos 17%. Ou seja, em uma compra de R$ 100 o casal paga R$ 17 só de tributos.
“Aqui no Brasil se tributa em demasia o consumo. Precisa vir uma reforma onde dê mais justiça fiscal e reforme a legislação tributando mais a propriedade e a renda do que o consumo, como ocorre nos países desenvolvidos”, diz Miguel Silva, tributarista.
A economia que essa família paulistana faz diariamente tem um objetivo. “Eu não comprei nada novo faz muitos anos. Tudo que eu tenho aqui é desde quando eu casei”, revela a cabeleireira. Nazaré quer reformar a casa e comprar eletrodomésticos novos. “Eu quero tanto o fogão de inox como a geladeira”, completa.
Os modelos custam cerca de R$ 2 mil cada. Esta semana, o governo prorrogou a redução do IPI, o Imposto sobre Produtos Industrializados, para carro, geladeira, fogão, móveis e materiais de construção.
Para Nazaré, vai ser um tempo a mais para juntar dinheiro, mas mesmo assim... “A gente precisava que essas coisas não existissem tanto, para gente poder viver melhor, porque senão não dá”, esclarece
Com informações: site FENAFISCO